O atendimento de pessoas com transtornos emocionais pelo CAPS está degringolando a cada dia. A inconstância de profissionais e a acomodação de outros é um problema que precisa ser enfrentado já.
Não são poucas as vezes que o usuário — como eles chamam os pacientes — passa horas na fila para atendimento e não é atendido, seja por falta de profissional psiquiátrico, seja por falta de TR — técnico de referência, profissional habilitado para dar entrada no atendimento pelo CAPS, separados por áreas de atendimento (geograficamente falando) — ou seja porque esse profissional não se encontra nos dias que deveria estar de plantão. O que achamos no CAPS hoje é uma enorme falta de prontidão e desinteresse.
Fonte: divulgação |
Foram incontáveis as vezes que presenciei a falta de profissionais para atendimento. Neste exato momento que escrevo os bairros Kennedy, João Mota e região estão sem TR (explicado acima), o que faz com que esses usuários (também explicado acima), quando leigos, fiquem sem atendimento. Digo "quando leigos" porque qualquer profissional no CAPS é habilitado para marcar uma consulta com o psiquiatra. Eu mesmo sou um usuário do CAPS por diversos problemas emocionais, mas ainda conto com um plano de saúde (graças s Deus), do contrário eu provavelmente não estaria mais aqui.
É importante ressaltar que aqui em Caruaru temos dois CAPS o CAPS III, responsável por sofrimentos psíquicos, e o CAPS AD, responsável pelo tratamento de pessoas dependentes de drogas lícitas ou ilícitas como o álcool e cocaína, por exemplo.
Vejamos como o governo define esses dois:
Dados do Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/caps às 18:00 do dia 18 de Abril de 2022. |
Então resolvi listar alguns dos problemas do CAPS em Caruaru:
- Falta de profissionais capacitados;
- Mau atendimento por partes dos profissionais do atendimento inicial;
- Demora de mais de dois meses entre uma consulta com o psiquiatra e outra (com isso as medicações sofrem intermitência);
- Mal trato para com os usuários;
- Comida (para os internos) de qualidade ruim;
- Resistência da diretoria em aplicar melhorias no atendimento ao usuário;
- Estrutura pequena para a cidade de Caruaru (funciona onde funcionava um canil);
- Falta de remédios tecnologicamente melhores;
- Alta recorrência de internamentos;
- Alta recorrência de erros administrativos como por exemplo: deixar de anexar um parecer de outro médico ao prontuário de um usuário;
- Funcionário não gosta de ser “incomodado” com demandas dos usuários.
Posso citar alguns exemplos pessoais:
- Neste ano o meu bairro já ficou sem TR mais de 3 vezes;
- Já se negaram a marcar consulta com o psiquiatra porque meu bairro não tinha TR, depois de muita insistência e de muita pressão apareceu um outro TR dizendo que qualquer pessoa pode marcar essa consulta quando o bairro está sem TR. Isso pode parecer besteira, mas as mais de cinco horas que fiquei discutindo com a primeira atendente foram muito estressantes e se eu não tivesse discutido estaria sem atendimento até hoje já que de lá pra cá (isso foi recente) dois TRs foram indicados para o meu bairro e todos deixaram o cargo vago;
- Tentei aplicar uma pesquisa com os usuário para mostrar à administração o nível de insatisfação dos usuários (que ainda é péssimo), mas fui barrado. Ao que parece não interessa à administração se o usuário está satisfeito ou não;
- Já fiquei internado e a estrutura é horrível. São dois quartos, um para homens e outro para mulheres, camas velhas e mal higienizadas, banheiros nojentos, sujos até de fezes, e o que eles fazem é apenas passar um ’mop’.
- A estadia é muito anti-reabilitação, quase manicomial. Tem uma TV na sala principal que fica ligada a um volume baixíssimo e só. Não tem uma atividade que o interno possa participar, nem correr na quadra é permitido. Então o dia se resume em esperar o tempo passar até os horários das refeições e remédios e fumar (mesmo quem não fuma passa a fumar para não enlouquecer).
- Profissionais bons não duram muito tempo.
Não estou colocando a minha cara a tapa a toa. Sei de todos os preconceitos inerentes a ser um paciente (usuário) psiquiátrico. Sofro de depressão profunda, ansiedade generalizada, transtorno dismórfico, transtorno equiso-afetivo, TDAH e dislexia. Ta bom ou quer mais? Mas coloco minha cara a tapa justamente para mostrar que os dados levantados acima não são de alguém de fora e sim de alguém que usa o sistema CAPS Caruaru.
Quantos aos meus diagnósticos: enquanto recorria apenas ao CAPS Caruaru, eram apenas de depressão e ansiedade generalizada. Não que sejam bom ter mais problemas psiquiátricos, mas não consegui diagnosticar mais da metade dos transtornos emocionais que realmente tenho (só consegui isso em um hospital-clínica particular). Eu tenho a sorte de ter um bom plano de saúde e poder recorrer a outros profissionais e outros estabelecimentos, porém e os que não têm? E se eu ficar sem plano de saúde? Inclusive depois deste internamento no hospital-clínica particular tive problemas para que os psicólogos do CAPS Caruaru aceitassem meus diagnósticos, diagnósticos esses documentados como manda a lei.
É por isso que precisamos que a cidade de Caruaru forneça a seus habitantes um atendimento psicológico e psiquiátrico a altura.
Nesta pandemia vimos o número de pessoas que precisam desse tipo de atendimento quadruplicar, os níveis de suicídio, que não podem ser divulgados para que não sejam gatilhos para outros potenciais suicidas, aumentou muito pelo que eu mesmo experienciei. Não se sabe os níveis de suicídio dos usuário do CAPS Caruaru, mas eu mesmo experienciei uma grande taxa de amigos próximos e pessoas conhecidas e não é baixo. Talvez esse seja o motivo que os gestores do CAPS Caruaru não tenham autorizado a minha pesquisa que pretendia mensurar todos esses problemas e sugerir soluções viáveis.
O fato é que o CAPS não comporta mais Caruaru. A cidade tem que prover esse serviço de forma mais EFICAZ aos seus moradores. E o que seria um serviço de forma eficaz?
- Que não trate o paciente como um ser inferior;
- Que promova treinamentos e pesquisas com o intuito de levar o melhor atendimento aqueles que estão passando por algum sofrimento emocional;
- Que não reduza o tratamento do paciente ás medicações ultrapassadas. Que utilize medicações mais tecnológicas nos tratamentos;
- Que tenha capacidade de internamento para quantos pacientes precisarem;
- Que não misture o tratamento de uma pessoa com sofrimento mental ao tratamento de pessoas com vícios em drogas (essas pessoas também precisam ser assistidas mas em um programa de governo diferenciado e mais EFICAZ que o CAPS Caruaru);
- Que os profissionais envolvidos estejam de fato envolvidos em investigar, diagnosticar e tratar TODAS as doenças e distúrbios emocionais do paciente e não se ater ao óbvio ou ao que os remédios disponíveis podem tratar (que no CAPS Caruaru são de uma variedade ínfima);
- Que tenha um programa anti-suicídio forte nestas unidades com internamento e ressocialização das pessoas que tiverem tendência suicida;
- Que sejam compostos por profissionais de carreira, sem intermitência de profissionais e com um programa de treinamento e uma política de tratamento que não permitam que esses profissionais se acomodem a ponto de achar ruim ter que fazer seu trabalho;
- Que deixe de lado a política manicomial de tratamentos;
- Que consiga oferecer pelo menos uma consulta psiquiátrica por mês para cada paciente;
- Que consiga uma dieta compatível com os padrões mínimos de alimentação saudável;
- Enfim, que respeite os pacientes dando o melhor tratamento possível de acordo com as tecnologias de tratamento já existentes há muito tempo.
Sei que o desafio é enorme mas temos que lutar pelo que é direito da população. E vamos lutar! Quando eleito esse será um compromisso meu na câmara de vereadores de Caruaru.
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À demain!
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